O traçado principal do Itinerário XVII de Antonino
tem suscitado muitas dúvidas apesar dos muitos miliários conhecidos (atualmente
cerca de 32), dando origem a várias propostas de trajeto e variantes. A
primeira descrição do seu percurso foi feita pelo bispo de Uranópolis,
informador de Contador de Argote que a relatou na sua obra de 1732 «Memorias
para a Historia Ecclesiastica do Arcebispado de Braga» e desde então se tem
discutido o traçado da via e localização das suas estações intermédias ou mansiones
originando uma grande diversidade de soluções. O levantamento do traçado da via
em 2005 no âmbito do projeto «Vias
Augustas», do qual resultou a limpeza e sinalização da via para uso
público, trouxe nova luz sobre o itinerário, mas não solucionou a diferença de
milhas que existe no I.A. e as medidas no terreno porque optou por fazer o trajeto
do Itinerário XVII pela variante mais a sul por Cortiço, Arcos e Alto do Pindo
que sendo sem dúvida romana, não acerta com as distâncias indicadas no I.A.
Reunindo toda esta informação, propõe-se o seguinte trajeto. A primeira estação
viária, designada por Salacia, situa-se a 20 milhas de Braga junto do
Castro de Vieira do Minho (Colmenero, 2004). A segunda estação, designada por Praesidium,
estava a 46 milhas de Braga e a 34 milhas de Chaves, devendo por isso
localizar-se entre Pisões e Penedones embora não seja segura a localização
exacta do povoado. Pouco depois, em Travassos da Chã, a via bifurcava seguindo
uma ramo para norte rumo à estação seguinte, designada por Caladunum que
corresponde ao importante povoado mineiro da Ciada junto da aldeia de Gralhas que
se encontra a 62 milhas de Braga e a 18 milhas de Chaves conforme indicado no
I.A. (Argote, 1732). O outro ramo inflectia para nascente cruzando o rio
Rabagão junto do Castro de S. Vicente, seguindo depois por Arcos e Pindo para
Chaves. A partir de Caladuno, a via seguia ao longo do vale da ribeira
da Assureira por Solveira e Vilar de Perdizes, continuava por Soutelinho da
Raia, Castelões, Calvão, Vale de Anta e Casas dos Montes até Ad Aquas
que podemos localizar com certeza na actual cidade de Chaves. Para mais
informação consultar a seguinte bibliografia: Pinheiro,
1895; Barradas, 1956; Colmenero, 1987; Redentor, 2002; Colmenero et al.;
2004; Maciel, 2004; Fontes, 2005 e 2012. Os miliários estão na sua maioria nos
seguintes museus: MDDS - Museu D. Diogo de Sousa
|| MRF || Museu da
Região Flaviense || MAB - Museu
Abade de Baçal
Vieira do Minho (SALACIA; da base do castro
seguia por Vila Seca, Tabuadelo e Pinheiro, seguindo a sul do topónimo viário
Parada Velha, iniciando pouco depois a subida pelas vertentes ocidentais da
Serra da Cabreira por calçada à Fonte do Confurco, seguindo depois pela Portela
da Serradela, com um troço de calçada por 500 m, descendo depois à ribeira das
Chedas na Ponte Poldro(?), continuando depois até Espindo, continua pelo
troço lajeado designado como «Caminho do Zebral», passando por Pontilhão,
Cancelos, Gândara e Ponte Velha do Caldeirão, seguindo paralela ou coincidente
com a estrada atual)
Zebral (m.p. XXXI; miliário
na Capela de S. Pedro, outrora pia batismal e hoje cimentado ao chão,
lendo-se ainda as letras CAESAR / NCVS / IV; cruza o rio da Lage no
Pontilhão dos Pardieiros)
- Argote refere dois miliários junto da Capela de S. Martinho em Zebral; um deles segundo Argote lia-se ESAR. AUG / STR. XVIII considerando-o um miliário a Augusto (CIL II 4776), e no outro lia-se CAESAR . AVG . / IMP . V . POT / III (CIL II 4775) (Argote, 1732); como não se conhece nenhuma Capela de S. Martinho em torno de Zebral, é provável que Argote se referisse à Capela de S. Pedro, onde ainda hoje está um dos miliários.
- Argote refere também dois miliários junto a um ribeiro, próximo da aldeia de Campos: um era dedicado a Cláudio (CIL II 4770) e no outro apenas se lia 35 milhas pelo que assinalava a distância a Braga (CIL II 4772); no entanto Argote indica que ambos seriam provenientes da «Portella de Rebordellos», no alto do monte (Argote, 1732), topónimo hoje desconhecido sendo que a milha 35 seria vencida junto da Ponte do Arco. Um destes miliários poderá corresponder ao miliário a Cláudio que está hoje no MRF (ARC396) dado como proveniente da Venda Nova pois este indica também 35 milhas a Braga, apesar de já não ser visível o 'X' inicial (CIL II 4771).
- Argote refere mais dois miliários adiante da aldeia de Botica de Ruivães, «à vista do rio Canhua», hoje designado por ribeira da Borralha; um estaria já ilegível e perdeu-se, o outro, dedicado a Trajano, indicava 43 milhas a Chaves (Argote, 1732) pelo que poderá ser o mesmo que apareceu posteriormente em Padrões, CIL 4783 (Fontes, 2004).
- É provável que existisse um ramal por Botica de ligação ao importante Povoado romano de S. Cristóvão situado na confluência dos rios Rabagão e Cávado e junto da atual aldeia de Ruivães.
Campos (m.p. XXXIII; continua por Lamalonga e
Alto do Cambedo, descendo depois à Ponte do Arco)
Ponte Romana?-Medieval do Arco (m.p. XXXV; cruza a ribeira da
Borralha, antigo «rio Canhua» no tempo de Argote, hoje submersa pela albufeira
da barragem da Venda Nova; tanto Argote como Martins Capela e Hübner, CIL 4773,
descrevem um miliário anepígrafo junto da ponte que deverá ser o mesmo que apareceu durante a
construção da barragem; esteve muitos anos nos jardins do Bairro da EDP e hoje
está num jardim junto da EN103 à entrada da aldeia da Venda Nova).
Fonte: http://www.viasromanas.pt/
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